segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Resumo Reunião Turquia

Data, local 25 de agosto de 2011

Tema Turquia

Participantes Peter, Luciana, Ariel, Cila, Natália, Daniel, Augusto, Danilo, Daniella

Na nossa última reunião, 25 de agosto, houve a discussão de 4 artigos, retirados de diferentes sites de política externa. Cila e Natália apresentaram as idéias centrais do texto, e o professor Peter complementou com alguns pontos.

APRESENTAÇÃO CILA -Texto Principal “Islam, Secularism and the Battle for Turkey’s Future” (STRATFOR)

Cila apontou que a análise concentra-se no estudo do movimento gülenista, o qual engloba 115 países, e do partido AKP. O embate situa-se na oposição entre o islamismo e o secularismo na Turquia atual. Para o autor, há uma inserção total do islamismo na Turquia, que perpassa todas as instituições e setores, desde a educação de crianças até uma ampla presença no setor econômico do país. Cila colocou que o texto aparenta mostrar uma concepção de que, historicamente, quando a Turquia está poderosa, ela opta por um posicionamento a favor do Islam, e quando está enfraquecida, adota uma linha mais pró-Ocidental.

Apesar das semelhanças entre o movimento gulenista (o qual não pode ser considerado um partido político), e o partido AKP (que se encontra agora no poder), há uma grande preocupação, por parte do AKP, de não ser visto como um partido que proponha uma agenda islamista radical; enquanto que o movimento de Fethullah Gülen é visto, pelo autor do texto, como um grupo que procura transformar a Turquia numa sociedade mais religiosa e conservadora. O autor aponta também, que, apesar das tensões existentes entre os grupos, ambos necessitam um do outro para superar as tradicionais elites seculares (Kemaelistas) nas forças armadas, mídia, judiciário, empresariado de Istambul, dentre outros setores. Nesse sentido, o movimento Gülenista, fornece ao AKP base social, enquanto que o AKP disponibiliza ao GULEN uma plataforma política para implementar sua agenda. Cabe também citar, a importância das forças armadas para a Turquia, e a sua inerente associação com o legado de Mustafa Kemal Ataturk.

“Arab Spring, Turkish Fall” (FOREIGN POLICY)

Cila mostra que o texto tem como fundamento principal, a ideia de que as revoltas árabes fortaleceram a Turquia, no sentido de proporcionar oportunidades para que essa possa emergir como uma potência regional, solucionadora de conflitos internacionais; no entanto, a Turquia se mostra, de certa forma, “atrapalhada” neste novo papel, pois acaba por adotar atitudes contraditórias, por exemplo, ao apoiar a queda de Mubarak mas condenar a perseguição a Kaddaffi (visto os interesses econômicos que estão em jogo).

Comentários Peter: Para o professor, o autor do primeiro texto adota uma perspectiva geoestratégica, pessimista e anti-gülenista; no entanto, para Peter, apesar do movimento ser inegavelmente Islamista Conservador, ele não pode ser de forma alguma visto como radical e extremista, pelo contrário, ele almeja uma “islamização rastejante” (a qual pode ser comparadas aos emergentes movimentos evangélicos). Tendo em vista, que o AKP também representa um partido com tendência islamizante, cabe questionar se é possível ou desejável, haver uma pacífica convivência entre democracia e islamização, e se a Turquia não poderia ser considerada como o exemplo desse novo tipo de Estado de Direito.

APRESENTAÇÃO NATÁLIA – Texto “Turkey’s search for Regional Power” (MERIP)

Natália coloca que o texto analisa a tensão entre o nacionalismo secular laico e a volta do Islamismo (a partir da vitória do AKP em 2002). O autor mostra que a Turquia, no que concerne à sua política externa, adotou uma postura mais assertiva, mais independente, e almeja apresentar-se como solucionadora dos conflitos internacionais contemporâneos, por exemplo, na questão nuclear iraniana e na curda (Iraque). Essa nova postura internacional poderia levar a uma deterioração das relações bilaterais com os Estados Unidos, contudo, para o autor, isso não é certo, pois o AKP não pretende romper com os Estados Unidos, mas apenas implantar uma política externa mais assertiva em relação aos blocos regionais, para que a Turquia tenha mais amplitude no seu espaço de negociação (de certa forma como faz o Brasil também). Nesse sentido, a AKP não quer mais ser uma ponte entre Ocidente e Oriente, mas sim, “uma porta de entrada”, ou seja, uma potência regional indispensável para resolver conflitos na região (principalmente no momento atual).

Texto “Sultan of the Muslim World” (FOREIGN AFFAIRS)

Natália mostra que o argumento principal do texto constitui-se na idéia de que é preciso abandonar o antiquado paradigma de Choque das Civilizações ( Samuel Huntington) para melhor entender a identidade turca, uma vez que essa representa, uma aliança entre o islamismo e o nacionalismo secular. Novamente, o autor aponta que, desde a vitória do AKP em 2002, houve uma retomada da islamização, e, simultaneamente, a adoção de uma política externa mais assertiva e independente.

Comentários Peter: Tanto os Kemalistas quanto os Islamistas do AKP mantêm-se dentro do paradigma culturalista. O professor aponta que a Turquia, ao analisar a política do AKP, não pode ser considerada como um país anti-ocidental e anti-capitalista; no entanto, pode-se considerar que, no que tange à sua política externa, a Turquia apresentou uma mudança, de nacionalista para neo-otomanista, postura essa que permitiu que a Turquia atuasse como uma forte potência regional e solucionadora de conflitos no Oriente Médio. O seu peso militar, tendo em vista sua incontestável tradição militar, também fortalece o seu peso político como ator fundamental na sociedade internacional.

Outros pontos levantados no debate foram: a relação entre Irã e Turquia, a qual começa a enfraquecer-se, visto que Turquia quer a saída de Bashar Assad do poder, enquanto que, o Irã, como aliado da Síria, quer a manutenção do status quo; e a entrada da Turquia na União Europeia, que aparentemente, não é mais tão desejada pelos próprios turcos, uma vez que, a União Europeia enfrenta, na atualidade, inquestionáveis dilemas sobre o seu futuro.


Abraços,

Daniella K.Abramovay