quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Resumo reunião Irã e Egito -08/12

Data, local: 08 de dezembro de 2011, FFLCH.

Participantes: Carol, Ariel, Cila, José Antônio, Peter e Daniella.

Tema: Irã e Egito

Apresentação Ariel: Texto “Understanding Iranian Foreign Policy : Combining Ideological and Realist Explanations” James Devine

O texto, feito para ser apresentado em um Congresso de Sociologia nos Estados Unidos, pretende analisar a política externa iraniana, sob dois ângulos distintos: o ideológico e o realista.

Ao examinar a política externa iraniana, dois aspectos sobressaem:

1) A importância da Revolução Iraniana, no sentido de uma visão de mundo iraniana norteada pela Revolução de 1979. Isso é ratificado pela existência, na Constituição do Irã, da primazia dos valores revolucionários. A valorização da Revolução embasaria o aspecto ideológico da política externa iraniana.

O autor aponta que o Irã tende a variar entre posições realistas e ideológicas em sua política externa. Nos anos 80, logo após a eclosão da Revolução, a sua política inclinou-se para o lado ideológico. Neste momento, Irã está em guerra com o Iraque, se opõe aos Estados Unidos e se aproxima do Hamas, em 1988, e do Hezbollah. A partir de 1988, com a derrota iraniana, o Irã utilizou a sua política externa de forma mais pragmática, mais realista, apropriando-se do conceito de balança de poder. Como os Estados Unidos representavam um ator poderoso no cenário regional e global, o Irã precisou recorrer à alianças estratégicas para dirimir a assimetria de poder; as relações com a Arábia Saudita se situam nesta lógica pragmática. A partir de 2000, o Irã retornou, progressivamente, a uma posição mais ideológica, tendo como sintoma desta “efervescência ideológica” a eleição de Ahmadinejad em 2005.

Para o autor, a ideologia representa a principal sustentação do regime para a sua legitimidade doméstica e também para a construção de alianças, definindo quais são as nações amigas e inimigas. Ariel apontou a necessidade de avaliar o carisma do governante como forma de sustentar o poder. O antigo aiatolá Khomeini, no dia do seu funeral, atraiu milhares de pessoas, o que, de certa forma, demonstra o papel do carisma no âmbito político. Ariel também citou Max Weber, o qual enfatiza o fator carismático no movimento xiita, podendo ser visto como uma “forma de poder carismática”. Nesse sentido, o próprio Ahmadinejad, no filme “Cartas para o Presidente”, aparenta reforçar esse elemento carismático ao responder as cartas provenientes do povo.

2) No que concerne a questão das alianças regionais, o Irã procura se fortalecer no Golfo Pérsico, no entanto, o país tem dificuldade de se posicionar na região. Com exceção da Síria, tem aliados fracos e informais, tais como o Qatar e o principiado de Omã. A fragilidade das alianças provoca instabilidade regional. Os aliados não logram reforçar a posição Iraniana, pelo contrário, essas alianças se situam muito mais no campo retórico que efetivo.

Ariel questiona o papel da Revolução Iraniana tanto no seu âmbito doméstico como nas suas relações exteriores, se este foi positivo ou negativo para o Irã como um todo.

Comentários Peter: Seguindo a lógica do autor, o relacionamento com a Síria pode ser visto a partir de uma perspectiva realista, já que este país não apresenta quaisquer afinidades, culturais ou ideológicas, com o Irã. Por outro lado, o Hamas, comprometido com a visão Khomeinista, explicita a existência de uma aliança fortemente baseada em identificações ideológicas.

Outro ponto a ser levantado é que a tendência mais moderada da política externa iraniana, durante a década de 90, se relaciona diretamente com a quebra do momento revolucionário do regime Khomeinista, devido à sua quase derrota na Guerra Irã-Iraque. O movimento estudantil e as manifestações dos que queriam liberalizar o regime são resultados dessa crise de legitimidade do regime dos Aiatolás.

Por outro lado, a derrubada de Saddam Hussein e o recente fim da intervenção dos Estados Unidos no Iraque geraram um vácuo de poder que fortaleceu o poder do Irã na região. Ao mesmo tempo, diferentemente do que prega a teoria realista, a política doméstica teve influência significativa na política externa do Irã; no que concerne a questão do carisma, Khomeini pode ser visto como uma pessoa carismática, mas, Khamenei é anti-carismático. O próprio Ahmadinejad tem mais carisma que o Khamenei. Para Cila, Ahmadinejad não é carismático, apenas se utiliza de uma máquina populista (a de responder as cartas) de forma eficiente.

Comentários Peter: A legitimidade do regime se baseia no elemento ideológico, o Irã, ao mostrar-se como uma mistura de democracia e teocracia, acaba por manter o apoio de uma parcela significativa, talvez a maioria, de sua população. A sustentação do regime não é econômica porque, apesar da existência de petróleo, o país apresenta uma performance econômica desastrosa, além da evidente corrupção por parte da elite iraniana.

Texto: Wikileaks

O texto, elaborado por um funcionário das Nações Unidas, pretende examinar as razões dos seqüenciais fracassos na mesa de negociações entre Irã, Estados Unidos e Israel.

Para o Irã, a questão da honra é essencial. O país não aceita sentir-se inferiorizado pelas outras nações.

Os Estados Unidos, devido à assimetria de poder existente entre os atores, acabam por adotar uma posição impaciente nas negociações.

Israel apresenta uma visão de mundo pautada pela percepção de uma ameaça iminente, e, como conseqüência, privilegia o uso da força militar como instrumento de resolução de conflitos.

De acordo com o autor, os três países precisam fazer concessões, reconhecer os atores, de forma equitativa, e construir laços de confiança. Essas ações, além de evitarem uma guerra nuclear, ajudariam na solução do conflito Israel-Palestina, na melhora do Líbano e na relação Arábia Saudita-Irã.

Comentários Peter: A questão da honra é, inquestionavelmente, relevante para os países do Oriente Médio, fator que acaba sendo negligenciado pelas potências ocidentais. Ao mesmo tempo, não se pode desconsiderar o discurso iraniano de aniquilação do Estado de Israel, o qual também constitui-se como fator de empecilho para a continuação das negociações.

Apresentação José Antônio: Texto – “Radical Change” Ed Husain

O autor, que, antes, fora radical islamista, agora é membro de Quilliam Foundation, um think-tank que adota uma postura crítica quanto ao radicalismo islâmico. Ed Husain também trabalha no Council on Foreign Relations.

Ed Husain procura analisar o conflito de idéias existentes entre secularistas liberais e islamistas, no âmbito das eleições egípcias. Para o autor, há um medo generalizado, por parte das potências ocidentais, de que os islamistas radicais vão “seqüestrar” as eleições.

O autor entrevistou alguns membros da Irmandade Muçulmana, questionando-os sobre o que seria um Estado Islâmico. Aparentemente, nenhum soube responder ao certo; fizeram muitas críticas ao secularismo mas não propuseram soluções alternativas. Abou El-Fotouh, da Irmandade Muçulmana, afirmou defender os direitos humanos, no entanto, ao ser perguntado sobre a possibilidade de haver desrespeito a esses direitos, por exemplo, se punições alcorânicas, tais como apedrejamento ou amputação, seriam incorporadas como normas da Carta Constitucional, Abou El-Fotouh adotou uma posição de conformidade e indiferença para com a proteção desses mesmos direitos.

O autor aponta que não se chegou a um consenso sobre qual seria o objetivo da Sharia. Há séculos atrás, a defesa da Sharia se relacionava com a proteção da família, da propriedade e do conhecimento. Regras particulares pautadas por estes objetivos e derivadas das fontes sagradas do Islã eram consideradas como historicamente contextualizadas e mutáveis. Porém, essa concepção mais liberal não é mais recorrente. Os partidos, e a Irmandade Muçulmana, em específico, não desenvolveram o conceito do que representaria um Estado Islâmico. O único assunto que os membros dos partidos parecem concordar é sobre a hostilidade para com Israel.

Comentários Peter: A origem da Irmandade Muçulmana é radical, anti-semita e anti-ocidental, no entanto, a Irmandade Muçulmana transformou-se e pode, eventualmente, evoluir para uma espécie de Partido Democrata Cristão na Alemanha ou A.K.P na Turquia. No partido, há muitos jovens que não são radicais, mas apenas conservadores. Outro aspecto interessante é que a Irmandade Muçulmana além de ter dinheiro e militância, ajuda os necessitados e constrói infra-estrutura, ações que mobilizam considerável apoio popular.

A Irmandade Muçulmana se moderou devido à repressão por parte do regime Mubarak e, mais recentemente, pela pressão dos liberais, porém, com o recente ganho eleitoral dos salafistas, a Irmandade terá que escolher com quem formará coalizão. Caso sejam os salafistas, há um maior risco de radicalização para a direita.

O turismo também deve ser lidado com o novo governo, uma vez que representa a primeira fonte de renda do país. Portanto, caberia questionar qual seria a posição de um Estado Islâmico perante os visitantes ocidentais.

Ariel pergunta se não observamos, pós Primavera Árabe, uma tendência em eleger partidos islâmicos.

Texto 2 “Why Egypt’s Salafists are not Amish?” Ed Husain

Para o autor, a ascensão do grupo salafista no Egito representa perigo por três razões principais:

1) O salafismo representa uma escola na qual terroristas proeminentes são venerados, tais como Osama Bin Laden. Movidos pelo princípio da “hakimiyyah”, os Salafis pregam Deus como sendo o governante supremo sobre os homens. Al Qaeda pretende implantar esse princípio, e para isso, utiliza-se do Jihad.

2) Acreditam que a relação com os não-muçulmanos deve ser mínima. Deve-se suspeitar e até mesmo odiar os que não sejam muçulmanos.

3) Aceitação do “takfeer”; muçulmanos podem ser excomungados e, posteriormente, executados.

Para o autor, esses três pontos unidos ao Jihad poderiam gerar uma confrontação regional e até mesmo global. São esses aspectos que precisam ser encarados pelo Ocidente.

Comentários Peter: A vitória dos salafistas não é tão preocupante como o autor pretende apontar. Os salafistas podem ser considerados um grupo radical, no entanto, não são necessariamente violentos. A grande questão é se os islamistas radicais usarão a democracia para se estabelecer no poder ou se a própria democracia conseguirá se consolidar, forçando os islamistas radicais a se conformar so jogo político não-violento. Nesse sentido, cabe perguntar se um regime com traços islamistas pode promover uma transição para uma democracia mais consolidada, ou, se esse regime acabará por apegar-se ao poder, destruindo o embrião da democracia?

Texto 3 – “Egypt’s Doomed Election” Andrew Reynolds

Para o autor, as eleições no Egito levarã0, inevitavelmente, a um desastre, a uma guerra civil. O Parlamento egípcio não refletirá o desejo da população, pois, os egípcios que foram às ruas foram silenciados pelo processo eleitoral.

O sistema eleitoral imposto pelos militares conduzirá, fatalmente, a uma excessiva representação de determinados partidos, tais como a Irmandade Muçulmana e os Salafistas, enquanto que as minorias, principalmente os coptas e as mulheres, ficam sub-representadas. Ademais, os partidos seculares não possuem uma base eleitoral significativa tais como os dois partidos principais.

Os coptas não votarão em partidos islâmicos, no entanto, também não confiam mais nos liberais, de forma que estarão sub-representados na Assembléia Constituinte.

Os liberais, ao se encontrarem em posição desprivilegiada, recorrerão a uma aliança com os militares, o que não deixa de ser um mau presságio.

Comentários Peter: A questão dos cristãos no Egito é importante. A ameaça à sua segurança poderia provocar uma emigração massiva para países próximos.



Resumo reunião Líbia 24/11

Data, Lugar: 24 de novembro de 2011, FFLCH.

Tema: Intervenção na Líbia

Participantes: Ariel, Cila, Daniel, Thiago, José Antônio, Luciana, Natália, Stella, Peter, Daniella.

Apresentação José Antonio – texto “Lybia recolonised” Aijaz Ahmad

O autor, um crítico literário marxista indiano, pretende analisar, neste artigo, a ação da OTAN na Líbia. Para ele, a intervenção representou uma ofensiva ultra-imperialista euro-americana. Aijaz aponta que essa foi a primeira intervenção baseada, exclusivamente, na defesa dos direitos humanos, e o autor, justamente, questiona essa justificativa.

O autor alega que um massacre não era iminente na Líbia, antes da intervenção da OTAN. Havia conflitos internos que, em nenhuma hipótese necessitavam de intervenção estrangeira para serem lidados. O princípio “responsabilidade de proteger” é uma concepção distorcida, usada, de forma manipulada, pelos países ocidentais. Ele cita, por exemplo, a redemocratização dos países da América Latina, a qual ocorreu sem intervenção estrangeira.

Para o autor, os países estrangeiros, ao intervir na Líbia, estariam interessados no petróleo existente na região, e como conseqüência, queriam se tornar parceiros comerciais da Líbia que iria emergir com a queda de Qadhafi. O autor afirma que, devido à intervenção, houve 50.000 mortos e 500 mil desabrigados, porém, em nenhum lugar encontramos dados com esses números.

A União Africana, para o autor, representaria o único ator legítimo capaz de defender a região, ao adotar uma posição contrária à intervenção. Através de críticas diretas à ONU, aos países europeus e aos Estados Unidos, a União questiona não apenas a legitimidade desses atores, mas também a sua tendência de se identificarem como “a comunidade internacional”. A ONU, seguindo essa visão, teria que ser apenas uma intermediária e não participar de uma guerra civil, tal como ocorreu na Líbia.

Ahmad denuncia o ataque ao regime de Qadhafi, descrito como progressista, de bem-estar e antiimperialista, o qual previa a privatização e a garantia de interesses ocidentais na Líbia. Nesse sentido, o autor alerta sobre o uso de argumentos humanitários para outras intervenções futuras no Oriente Médio.

O autor termina por comparar as ações de dois países “imperialistas” na África: os Estados Unidos e a China. Ambos buscam garantir o acesso aos recursos naturais africanos. No entanto, enquanto que os Estados Unidos recorrem ao uso da força e de forma apressada, a China investe na região e espera, pacientemente, o retorno de seus investimentos. Desta forma, o futuro da África seria melhor se estivesse nas mãos da potência asiática.

José Antonio apontou que o autor não trouxe quaisquer propostas sobre como lidar com a questão do genocídio. Ademais, questiona até que ponto podemos considerar que um país, ao lutar pelos direitos de suas empresas, pode ser considerado imperialista, em meio a uma sociedade globalizada e interdependente financeiramente.

Comentários Peter:

O autor, ao defender a idéia de uma abolutização da soberania do Estado, adota uma perspectiva realista e não marxista das Relações Internacionais. Além disso, o autor denega o papel da defesa dos direitos humanos pois se concentra apenas na análise da instrumentalização do discurso humanitário por parte das potências ocidentais. Ressaltando que hoje a preocupação com os direitos humanos é muito mais proeminente do que anos atrás.

Há uma idealização do regime de Qadhafi, visto como mártir, e como conseqüência, há uma amenização no que concerne o número de violações de direitos humanos pelo regime. Ademais, a idéia da Líbia como um Estado de bem-estar social é inconcebível, pois, a riqueza do petróleo ficou concentrada nas mãos da elite, enquanto que a população tem salários baixíssimos.

Qadhafi não estaria disposto a negociar, tal como o autor defende, pelo contrário, o discurso da negociação equivaleria a mais uma tentativa de truque, de artimanha. Ademais, ao associar os rebeldes como mercenários da OTAN acaba por adotar uma perspectiva simplista do conflito que reduz o significado da oposição interna ao regime.

Apresentação Thiago - texto “Conflict risk alert: Syria’s tipping point” e “Syria, Sanctions and Evils of Transition” de Ed Husain

Levante de oito meses que caminha para um conflito violento. Com o conflito na Síria, há um risco de contágio regional, principalmente, no Líbano, Jordânia e Iraque.

Acordo com a Liga Árabe tende a falhar pois a idéia de que as manifestações pacíficas seriam aceitas pelo governo é extremamente enganosa. Ao mesmo tempo, há uma polarização que contamina as instituições, por exemplo, no exército, no qual há um número considerável de desertores, os quais querem unir-se à luta armada.

No cenário interno, a classe média síria, na opinião do autor, se encontra dividida, não decidiu ainda quem irá apoiar, primeiro precisa verificar quais dos seus interesses estão em jogo. No tocante aos países da região; o Irã, o Líbano, a Argélia e o Iraque apóiam a Síria, paralelamente, a Rússia e a China já prometeram vetar qualquer resolução das Nações Unidas que seja prejudicial à Síria. Do outro lado, a Turquia já deixou claro a sua posição no conflito ao apoiar o exército livre sírio. Uma tensão entre Síria e Turquia pode deflagrar em um conflito mais intenso.

Para o autor, o medo da Síria de se isolar internacionalmente poderia fazer com que o acordo com a Liga Árabe desse certo, no entanto, os fatos mostraram o contrário.

Thiago aponta que um aspecto importante da Primavera Árabe é a vertente econômica, pois esse fator perpassa as diferentes manifestações, no entanto, cada país apresenta as suas particularidades, o que permite uma distinção entre as revoltas.

No texto de Ed Husain sobre sanções, o autor alega que as sanções não funcionam pois prejudicam a população e não enfraquecem o regime, um exemplo desta ineficiência seria o Iraque de Saddam Hussein, o qual foi condenado a doze anos de sanções, sem que estas mitigassem o regime.

Comentários Peter: Com a queda de Assad, o Irã será o principal prejudicado, pois caso Assad não esteja mais no poder, o substituirá ou uma guerra civil ou um regime sunita, e ambos seriam maléficos ao Irã.

É interessante comparar as manifestações no Irã e na Síria: na Síria, há uma evidente contestação do regime pela população e as recorrentes manifestações nas ruas ratificam esse fato; já no Irã, o governo logrou silenciar a oposição, usando muito menos violência do que a Síria. O Irã é um país muito institucionalizado, e por esta razão, consegue reprimir com eficácia e legitimidade. No Irã, a morte de algumas pessoas já provoca um afastamento de possíveis oposicionistas. O regime iraniano não é menos violento do que o sírio, mas muito mais eficaz em intimidar a oposição. Além disso, o Irã dispõe, provavelmente, de uma maior reserva de legitimidade ou até mesmo simpatia em relação à ditadura de Assad.

Peter questiona a lógica econômica para explicar as revoluções, para ele, o que realmente ocorre é que os países árabes petrolíferos tem renda suficiente para subornar a população, e portanto, silenciar a oposição. Isso ocorre principalmente na Arábia Saudita, na Argélia, no Kuwait e, até março de 2011, no Bahrein. O petróleo representaria então a possibilidade de evitar as manifestações. Assim, a relação causal entre miséria econômica e revoluções não se aplicaria, pois, caso contrário, haveria mais revoltas em Bangladesh e Nigéria, e menos no Bahrein, um principado petrolífero. Fatores materiais são claramente importantes, no entanto, o que desencadeia as revoltas parece estar mais relacionado a um fator de dignidade: as revoltas eclodem onde a elevação das expectativas de emancipação (econômica, mas, primeiramente, política e social-sexual) são evidentes. Além disso, essas expectativas se intensificam com a globalização e com as novas mídias, e acabam por entrar em choque com regimes estagnados, com queda de legitimidade e sem habilidade para conduzir uma abertura gradativa e controlada.