sexta-feira, 23 de março de 2012

Reunião 12/03 - Intervenção na Síria

Data, Local: 12 de março de 2012. Sala 10, prédio da História. FFLCH.

Participantes: Prof.Peter, Augusto, Daniella, Danilo, Cila, Cybele, José Antônio, Luciana, Natalia, Vladimir.

Tema: Atualidades.

A reunião consistiu na análise de questões da atualidade e, principalmente, sobre uma possível intervenção estrangeira na Síria. Uma série de exposições individuais foram feitas, as quais baseavam-se em perspectivas distintas.


Apresentação Cila – Declaração Política do Partido Comunista Sírio

O texto representa um discurso panfletário, no sentido de atrair atenção ao discurso comunista, contrário ao imperialismo.

De acordo com o panfleto, a Síria deve espantar “os imperialistas”, não permitindo uma intervenção no país. O partido defende o regime de Bashar AL-Assad, por considerá-lo um governo legitimamente anti-imperialista e defensor das lutas populares.

Desta forma, o partido demanda à população síria que lute contra as forças externas e que apoie o governo de Assad. Os levantes violentos que ocorrem na Síria são feitos por grupos terroristas e, principalmente, pela Irmandade Muçulmana. Além disso, os ataques são dirigidos a intelectuais e cientistas com o único objetivo de desarticular e enfraquecer o governo.

O partido acredita na redemocratização prometida por Assad. Ademais, caso houvesse a implantação de um novo governo, esse seria comandado pela Irmandade Muçulmana, considerada como retrograda.

Comentários Peter:

O argumento do partido comunista assemelha-se ao argumento oficial do governo. De acordo com essa visão, a Síria faria parte de um eixo anti-imperialista, junto ao Irà e à Venezuela.

A legitimidade do governo deriva da oposição ao imperialismo, tal como a oposição a Israel e sua ocupação das Colinas de Golã. Além disso, por mais que o regime tenha defeitos, ele serviria a um propósito maior.

O partido visualiza a Irmandade Muçulmana como oposição, e, de certa forma, isso é verdade, pois o governo apesar de extirpar as oposições políticas, não pode erradicar as oposições religiosas.


Apresentação Natalia – Ed Husain “West must not interfere militarily in Syria”

Embora o autor não simpatize com o regime de Assad, o texto apresenta uma perspectiva claramente contrária à intervenção. Para o autor, essa intervenção corresponderia a mais uma intervenção norte-americana a um país de maioria muçulmana.

Além disso, haveria que discutir como ocorreria essa intervenção: seria estabelecido um cordão humanitário? Quem dominaria a Síria? O que apaziguaria as hostilidades chinesas e russas na Síria?

Para Ed Husain, a intervenção conduziria a uma situação ainda pior, pois a Síria não é um país homogêneo e estável, pelo contrário, há uma inegável variedade étnica e religiosa em seu território. Portanto, a guerra teria de servir apenas como último recurso; caso a diplomacia, as sanções e o isolamento de Assad falhassem.


Apresentação José Antônio – Anne Marie Slaughter “How the world could- and maybe should – intervene in Syria?”

O texto, proveniente de uma respeitada internacionalista associada ao governo de Obama, possui argumentos claramente liberais favoráveis à intervenção. Esses baseiam-se em quatro pontos principais:

- A comunidade internacional precisa aceitar que a queda de Assad não é inevitável, assim, é preciso pensar em cenários alternativos, caso contrário, uma guerra civil poderia eclodir.

- Há a necessidade de invocar a política de “responsabilidade de proteger”, portanto, é preciso agir e não apenas falar do que ocorre na Síria.

- Cabe citar que conflitos de grandes proporções emergiram de situações nas quais os governos violaram os direitos de seus cidadãos, como, por exemplo; os judeus na Segunda Guerra Mundial, os iraquianos, com a Guerra no Irã e no Kuwait, os ruandeses, em um conflito que se alastrou por quinze anos, e os conflitos presenciados nos Balcãs.

- Os Estados Unidos devem mostrar seu compromisso com a sociedade internacional de forma a não afetar a sua credibilidade internacional.

A intervenção deve ocorrer, porém, essa deve basear-se em quatro condições fundamentais: a oposição síria demandar a intervenção armada, a liga árabe endossar o pedido, a intervenção limitar-se à proteção dos civis e a imprescindível adoção de um consenso na ONU.

Comentários Peter:

O argumento mais forte do texto consiste no argumento moral, o qual estabelece que a sociedade internacional não deve ficar inerte. Os outros argumentos são mais práticos e fracos.

Além disso, há contra-exemplos de violações de direitos humanos que não foram seguidas por conflitos de maiores proporções.


“What should the United States do about Syria?” A TNR Symposium (The New Republic)

Apresentação Cila- Daniel Dresdner – “Why we should arm the opposition”

O autor propõe que os Estados Unidos cumpram sua função de único país, na sociedade internacional, capaz de enfrentar a situação síria. O governo de Obama não deve mais ficar apenas no âmbito discursivo.

Os Estados Unidos deveriam armar a oposição síria, na tentativa de equilibrar o jogo de forças, uma vez que Rússia e Irã já disponibilizam armas para os defensores de Assad.

A intervenção não equivaleria a uma boa opção; pois, poderia ocasionar mais mortes, gerar um conflito sectário interno, retaliação por parte do Irã e a possibilidade de uma corrida armamentista “por procuração” (proxy wars) dentro das fronteiras sírias.

Comentários Peter:

Há que considerar a possibilidade de a Rússia deixar de apoiar incondicionalmente a Assad, e isso só seria feito se houvesse garantias ao acesso do porto de Tartus, no mediterrâneo, pela oposição síria.


Apresentação Augusto – Suzzane Nossel “Why pressuring Russia and China is the key to ousting Assad”

O veto por parte da Rússia e da China representa a fonte do impasse à intervenção na Síria. No entanto, o isolamento dos dois atores facilita, de alguma forma, um possível convencimento para que mudem de posição.

É necessário convencer a Rússia, uma vez que a China está basicamente apoiando a sua posição, e caso ela mude, nada impede que a China mude também.

Peter: O poder de veto do CSNU não deve ser ignorado, pois ele é capaz de inibir qualquer ação do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Apresentação Augusto - Blake Hounshell “Why Obama’s hand are tied?”

Para o autor, Obama está de mãos atadas não apenas por falta de opções políticas mas também por falta de vontade política para agir incisivamente na Síria, dado a sucessão de erros cometidos na intervenção na Líbia.

Os Estados Unidos deveriam fornecer ajuda humanitária e apoio diplomático, e não sanções econômicas.

Peter: O autor apresenta um otimismo de certa forma ingênuo, pois é difícil acreditar que Assad sairá do poder sem uma intervenção internacional.


Apresentação Danilo – Larry Diamond “How we should engage with Assad in order to oust him?”

A não intervenção na Síria representa uma falha diplomática grave, porém essa intervenção deve representar um acordo político para que não ocorra os mesmos erros da Líbia.

Um governo justo e legítimo deve ser estabelecido, deve ser garantido os direitos às minorias e a família de Assad deve embarcar de forma segura ao exílio.


Apresentação Luciana – Michael Weiss “A blueprint for military intervention”

O autor acredita que os avanços feitos pelo Exército da Síria Livre representam uma vitória do movimento de oposição dentro da Síria.

Há uma guerra civil que já culminou em uma guerra sectária. Nesse sentido, os sírios ansiariam por uma intervenção para que houvesse o fim da violência e o estabelecimento de certa segurança, o que o autor denomina como “efeito psicológico da intervenção”.

Comentários Peter:

Quando se arma um lado, não necessariamente esse lado vencerá, pois Irã, Rússia e China podem armar o outro lado, o que levaria, inevitavelmente, a uma ampla guerra civil e a um risco de expansão da guerra para todo o Oriente Médio.


Apresentação Professor Peter – Media spin acerca da popularidade do regime de Assad

Uma pesquisa da opinião pública, sobre a popularidade de Assad, afirmou que ao redor de 55% dos sírios estariam a favor de Assad. No entanto, pode-se questionar essa pesquisa, uma vez que as perguntas foram feitas apenas a um grupo pequeno de sírios com boas condições econômicas, e parcialmente fora da Síria, o que diminuiria a representatividade dos resultados.


Questionamentos apontados durante a reunião:

· Caso Assad saia do poder, quem ficará no seu lugar?

· Como seria feita uma intervenção? E o desalojamento?

· Na Síria, diferentemente da Líbia, não há um deserto no qual cidades pequenas possam ser bombardeadas.

· Mais difícil diferenciar, na Síria, amigos de inimigos, caso houvesse uma intervenção.