Simulação
Objetivo: esclarecer as posições opostas de muçulmanos
modernistas e islamistas na conjuntura atual.
Data, Local: 23 de abril de 2012, FFLCH, USP.
Participantes: Ariel, Augusto, Cila, Daniella, Danilo,
Flavia, Luciana, Natalia, Valmir
Tese: “O
islã é perfeito, nosso desafio é achar a leitura correta da palavra de Deus. E
Deus nos deu a razão e nos convidou a usá-la e desenvolver nossa própria
interpretação da religião. Pode existir legitimamente uma pluralidade de
visões. Nossas fontes sagradas são compatíveis com, e encomendam, direitos
iguais para homens e mulheres (e até para homossexuais) e também para os
crentes de todas as religiões (inclusive para judeus, e até para ateus). O islã
é a religião da paz e rejeita a violência. Meu islã pode conviver perfeitamente
com a modernidade e proíbe o uso de terrorismo e de outras violências contra
inocentes, tanto muçulmanos quanto outros, tais como praticado por islamistas
extremistas.’
Modernistas: A favor da tese – GRUPO A
·
Um xiita que sofreu perseguição por
sunitas - DANILO
·
Uma homossexual muçulmana rejeitada
por sua família e comunidade LUCIANA
·
Uma muçulmana casada com não-muçulmano
CILA
Fundamentalistas: Contrários à tese – GRUPO B
·
Um católico convertido ao islã que se
tornou salafista radical e perdeu seu emprego por conta disto –VALMIR
·
Uma sunita que veste burqa e foi
atacada por islamofóbicos NATALIA
·
Um salafista que foi atormentado pela
polícia por suspeita de planejar terrorismo AUGUSTO
juízes - Daniella e Ariel
Grupo A: Um xiita que
sofreu perseguições por sucintas - DANILO
Declaração Inicial:
·
Eu busco comprovar que o Islã é a religião perfeita
mas que há uma deturpação da religião; uso da violência e tiranias religiosas
como na Arábia Saudita e no Irã. Não ha indicação no Alcorão de que a teocracia
seja o verdadeiro caminho para as religiões.
·
O Islã não é monolítico, por isso legitima pluralidade
de ideias e visões.
·
É uma religião da paz, não pode ser imposta,
deve ser propagada pelo convencimento e não pela força.
·
O Alcorão reconhece a pluralidade de visões e
perspectivas teológicas.
·
Através do diálogo se alcançara a verdade.
·
O verdadeiro Islã deve aceitar liberdade de
decisão e crença. Não cabe a nós, impor nenhuma verdade aos demais, mas sim
buscar a verdade.
·
O Islã é compatível com os direitos humanos,
negar isso é negar o verdadeiro Islã.
·
O Islã e a
democracia não são incompatíveis, e a modernidade não é um empecilho à
verdadeira crença.
·
Nós, muçulmanos, também podemos ser tributários
da realidade.
Grupo B: Um
salafista que foi atormentado pela polícia por suspeita de planejar terrorismo
-AUGUSTO
Declaração inicial:
·
Concordamos com alguns pontos.
·
Por outro lado, nos impressiona a defesa de uma
pluralidade de visões no Islã, isso é KALAM, retórica ideológica que não é
possível no Islã. O profeta já descreveu todas as formas que devemos nos
organizar.
·
Entender o que esta escrito no Alcorão é uma
atividade que não cabe a nós fazer, temos apenas que seguir os mandamentos do
Islã.
·
A Sharia deve ter predominância sobre os
direitos civis e sociais, isso não significa que seja incompatível com o Islã.
Assim, haveria de se seguir a Sharia antes das leis alemãs. As sociedades devem
ser baseadas na sharia.
·
Não ha diferenciação entre vida política e
religiosa.
·
Maomé nunca matou ninguém e nunca reagiu quando
foi atacado. Deve-se focar na importância do jihad (contra ostentações, defesa
do Islã e construção de sociedade muçulmana) mas apenas quando for atacado, e
sem ataques a mulheres, crianças e doentes.
·
Países do Ocidente atacam o Islã.
Grupo B: Um
católico convertido ao Islã que se tornou salafista radical e perdeu seu emprego
por conta disto - VALMIR
Contra-ataca a
declaração inicial do grupo A
·
Só existe um Deus, Alá, e Maomé é o seu
profeta.
·
O profeta é a pessoa mais habilitada para
governar.
·
A representação dos valores do mundo terrestre
vem de deus. Deus tem primazia sobre os homens, assim que confrontado com o
infiel, o profeta é o único adequado para governar o mundo. O mundo dos infiéis
tem outra dinâmica a ser governada, e é uma sociedade corrompida, onde não se
respeitam as virtudes das mulheres nem a honra da casa.
·
O Islã é universal, a revelação foi feita a
todos. É legitimo que o verdadeiro crente busque a propagação dessa fé. Não
deve estar restrito aos povos que compartilham da lei do momento pois o Islã é
universal.
·
Islã é um aperfeiçoamento do monoteísmo.
Grupo A: Uma
homossexual muçulmana rejeitada por sua família e comunidade - LUCIANA
Contra-ataca a
declaração inicial do grupo B
·
A religião muçulmana é baseada no Alcorão e no
pacifismo. Quando o comportamento não é adequado implica-se discriminação, mas
nenhuma religião discrimina, essa deve estar baseada na solidariedade.
·
A religião não pode ser interpretada de uma
única forma.
·
Se ela é compatível com os direitos humanos e
com a democracia, também é compatível com a diversidade sexual.
·
O problema reside na má interpretação do livro
sagrado do Alcorão: uma interpretação radical das leis islâmicas e de uma
teocracia que impõe a Sharia, nega visão do Islã como religião de paz, de
liberdade e de não-discriminação.
Danilo completa:
·
Em linhas gerais, não há discordância quanto
que o Islã é a religião perfeita (já que sou muçulmano) mas nosso profeta já
morreu, ele de fato foi governante de Deus na terra, não ha contestação disso,
mas no momento não ha ninguém que possa governar como comandante de Deus na
terra.
·
A razão e a consciência dadas por Deus serve
para interpretar a palavra de Deus.
Grupo A: Uma
muçulmana casada com não-muçulmano - CILA
Questiona Natalia
sobre vários pontos:
·
Muçulmana praticante, ainda não uso hijab.
·
Defendo que o Islã eh universal e que é necessária
a expansão da fé, porém considero que a religião já tem falas de Alá que nos
trazem igualdade e fraternidade entre os povos.
·
Não se deve negar as transformações culturais e
sociais; e deve-se retirar da própria religião as falas verdadeiras.
·
PERGUNTA- Como lidam com a falta de uma
instituição organizada politicamente, tal como a democrática?
Grupo B: Uma
sunita que veste burca e foi atacada por islamofóbicos - NATALIA
Natalia responde à Cila:
Ter uma comunidade
integrada como já ocorreu antes que não nega a solidariedade. Não é por ser
fundamentalista que somos contra a paz. Além disso, há igualdade de papéis no
sentido de que o homem tem o seu papel e a mulher tem o seu, a mulher deve ser
protegida pelo homem.
Natalia pergunta à
Cila:
Por que a minha
interpretação da religião tem que ser banida em detrimento da de vocês? Como o
princípio da democracia, há de haver liberdade de opiniões, e por que a minha
concepção deve ser banida e a sua não?
Valmir complementa a
pergunta: E por que tem que ser
democracia? O Alcorão reconhece a desigualdade, não fala de igualdade. O homem não nasceu para livre-arbítrio, cabe
ao homem obedecer a Deus e ao que esta escrito.
Cila responde à
Natalia e ao Valmir
É necessário trazer a
essência do Alcorão, e nele há passagens em que se declara a igualdade entre as
pessoas e povos. A maioria dos povos vive sim em democracia, isso mostra que
funciona, embora alguns regimes não atuem de forma democrática.
Não falei que os
fundamentalistas não devem existir, só falei que os fundamentalistas negam as
transições culturais e sociais.
Perguntas dos juízes
Ariel pergunta para
Augusto: Você poderia explicar melhor a sua justificativa do jihad?
Resposta: Não há
necessidade de afirmar-se como não violento porque já somos não-violentos. Mas
o que ocorre é que sofremos de opressão e há necessidade de reforçar a autoproteção
porque estamos sempre sob ataque, e isso é demonstrado pela necessidade de
afirmarmos que não somos violentos. Além disso, há diferentes tipos de lutas
internas e externas contra os desafios e as tentações colocadas pra gente. O
maior jihad é o jihad interno, é nesse tipo de luta que devemos focar.
Ariel pergunta ao
Danilo: Como vocês interpretam a dificuldade do Islã de lidar com a crítica,
por exemplo, algum livro que difame o profeta?
Resposta: é preciso
diferenciar a crítica (aceitamos) da ofensa (recusamos). Além do mais, o grau
de tolerância do Islã é baixo em relação a livrarias. Seria possível existir
esses títulos numa livraria ocidental.
Valmir complementa a
resposta: O Cristianismo tem mais falhas
e é menos coeso, abre espaços para livros assim, o Islã não.
Ariel pergunta à
Luciana: Como você se sente como homossexual?
Resposta: Eu não deixei
de ser muçulmana apesar de ser excluída de minha família e comunidade. É uma
religião pacifista e a maneira que eu interpreto o livro sagrado é positiva; é
uma reinterpretação do livro sagrado mas não rejeição do livro sagrado.
Flavia pergunta ao grupo
B: Por que não pode haver um sistema de governo que se submete a Sharia?
Resposta de Danilo: A imposição
da nossa lei para todos seres humanos não condiz com o princípio do Islã que
deve ser propagado pelo convencimento, muçulmanos devem aderir por sua própria
crença pois se não é imposto não é verdadeira, assim a Sharia não pode ser
colocada como lei.
Peter pergunta aos
fundamentalistas: O que fariam com Luciana?
Resposta de Valmir:
apedrejamento.
Peter pergunta aos
progressistas: O que diferencia vocês de algum agnóstico? ou deísta?
Resposta de
Danilo: Eu reconheço um único Deus, é
Maomé como último profeta, e acredito nos ensinamentos de Deus através de seu
profeta. Reconheço a verdade do Islã.
Peter pergunta à Cila:
Você é a favor da proibição da burca?
Resposta: Sim, usaria
o hijab, mas considero que tampar o rosto é considerar-se uma pessoa anônima na
região. Sou favorável a usar burca em
espaços privados mas não em instituições públicas.
Peter pergunta para
dois grupos: Acham que é possível que o outro lado tenha razão?
Resposta: Sim,
progressistas. Não, fundamentalistas
Declaração final : DANILO
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Os fundamentalistas comprovaram nossas ideias
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Vocês mesmo querem democracia e aceitaram debater
(me surpreendeu) sem crítica, sem ofensa.
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Vocês mesmo demonstraram que o Islã não poder
ser imposto.
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O objetivo universal do Islã vai ser alçando
com respeito aos direitos humanos e à razão.
Declaração final :VALMIR
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Portas abertas para corrupção, e isso não é bom
para o Islã.
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Exagero no excesso de interpretações
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Democracia é o modelo político do infiel
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Diferença entre debatermos mais especulação
Para os juízes, ambos
os grupos tiveram algumas dificuldades de argumentação, mas os progressistas
conseguiram defender melhor seus pontos de vista.
Daniella K.Abramovay