sexta-feira, 30 de setembro de 2011

RESUMO REUNIÃO CONFLITO ISRAEL-PALESTINA


Data, local: 22 de setembro de 2011

Tema: Conflito Israel-Palestina

Participantes: Peter, Luciana, Ariel, Augusto, José Antonio, Natália, Daniel, Danilo, Daniella


Em nossa última reunião, discutimos cinco textos sobre o atual conflito Israel-Palestina. Luciana, Daniel e Augusto foram os responsáveis por apresentar os textos aos grupos.


Apresentação Luciana – Texto principal “Is Palestine next?” de Adam Shatz (London Review of Books)


Luciana fez uma análise detalhada dos principais aspectos apresentados no texto, esse esboça um panorama impressionista das posições palestinas no inicio de 2011. Shatz adota, claramente, uma posição pró-palestina, e, através dos argumentos mostra o anseio do povo palestino em adquirir justiça pelos fatos ocorridos no passado.

O autor mostra que, em meio às revoltas da primavera árabe, a questão palestina emergiu no cenário internacional. Com os eventos ocorridos na Líbia, no Egito, na Tunísia, e em outros países, os palestinos começaram a sentir-se mais confiantes na luta pelos seus direitos; não se sentiam mais sozinhos quando viam bandeiras palestinas hasteadas na praça Tahrir, acreditavam que a sua vez estava próxima.

Ao observar a demanda palestina na Organização das Nações Unidas; de ser reconhecida como Estado, Adam Shatz mostra que, para a maioria dos palestinos, a questão não se concentra tanto na resolução de um Estado ou dois Estados, mas sim no reconhecimento, por parte de Israel, dos crimes perpetuados e das injustiças cometidas ao longo desses anos conflituosos. Nesse sentido, o pedido de reconhecimento na ONU constituiria muito mais uma tática da causa palestina do que um fim em si mesmo; um objetivo, pois independentemente do resultado final, a questão Israel-Palestina seria colocada na pauta dos assuntos internacionais que demandam uma solução imediata. Além disso, o possível veto dos Estados Unidos, junto à negação israelense, poderiam aportar um certo constrangimento aos Estados Unidos, na sua política externa e nas suas relações com o Oriente Médio, as quais já não se encontram em seu melhor momento.

Luciana também apontou no texto em que consistiria o direito de retorno para os palestinos; não seria necessariamente uma questão de voltar a estabelecer-se em suas moradias originais, mais sim de ter a possibilidade de locomoção por todo o território israelense, sem a presença de postos de controle e muros que separam as populações. Os jovens formam o principal grupo que defende a existência de um Estado único, onde possa ser garantida a liberdade e direitos para todos, independente se são palestinos ou israelenses; no entanto, para que possa existir essa coexistência entre os povos, é imperativo o reconhecimento, por parte de Israel, das injustiças cometidas contra o povo palestino. Por outro lado, o texto documenta também tendências mais problemáticas entre a nova geração de palestinos cisjordanianos, tais como a recusa de diálogo e de qualquer cooperação, a qual possa ser entendida como uma “normalização” nas relações, seguida de uma parca reflexão sobre a futura coexistência com os judeus no esperado Estado binacional.


Comentários Peter: o argumento mais importante do texto consiste na definição das manifestações não-violentas como um eficaz mecanismo de solução do conflito israelo-palestino, no sentido de que Israel não teria como responder, pelas armas, a grupos de pessoas entrando em seu território com chaves e bandeiras palestinas. O inovador do artigo estaria, portanto, na combinação de novas táticas de guerra não-convencionais, principalmente a internet, trazidas pelos jovens, unida à propagação de uma agenda mais radicalizada, que busca deslegitimar Israel e a solução de dois Estados.

No debate entre todos os membros, Ariel colocou que essas manifestações não-violentas podem ser perigosas, no sentido de que há a possibilidade de violenta repressão para combatê-las, tal como ocorreu nos Estados Unidos, na década de 60, com o movimento negro, o qual foi duramente combatido pelas forças dominantes.

Outro ponto levantado pelo professor seria de que o reconhecimento da Palestina acabaria sendo benéfico para Israel, pois haveria o reconhecimento de Israel como um Estado, dentro de fronteiras definidas, pela comunidade internacional (já que alguns países ainda não o reconhecem), e haveria também o reconhecimento das fronteiras internacionais, principalmente, as do lado da Cisjordânia; no entanto, a radicalização de ambos os lados: dos palestinos, que acabam recorrendo ao Hamas, e dos colonos presentes nos assentamentos, os quais provocam os palestinos cotidianamente, levaria a uma situação de impasse nas negociações, a qual, dificilmente, seria superada.


Apresentação Daniel – Texto “Israel’s Borders and National Security” de George Friedman (Stratfor)


O argumento principal do texto está na defesa, por motivos geopolíticos e estratégicos, do retorno às fronteiras pré-1967 de Israel. O autor defende sua perspectiva através de uma análise exclusivamente militar da evolução histórica das fronteiras israelenses. Para o autor, um território mais amplo não pode ser considerado como sinônimo de uma maior segurança territorial, pelo contrário, a guerra de 1973 (guerra do Yom Kippur), entre Israel, Egito e Síria, apesar de ter sido ganha por Israel, mostrou as dificuldades de defesa dos territórios adquiridos. Além do mais, hodiernamente, há novas formas de guerra não-convencionais, “assimétricas”, como a guerrilha feita pelo Hamas e Hezbollah contra Israel e a ameaça nuclear iraniana. Portanto, para combatê-las Israel não precisa levar em consideração o tamanho do seu território. Outro aspecto levantado pelo autor, é a ampla dependência militar de Israel para com os Estados Unidos; essa aliança pode não ser tão eterna quanto os israelenses gostariam (wishful thinking), por isso, é necessário que Israel possa desenvolver sua auto-suficiência no âmbito militar. Daniel apontou no texto que o autor desconsidera a questão dos assentamentos, os quais constituem-se como o principal obstáculo ao retorno das fronteiras pré-1967.


Texto “When Israeli arrogance meets Arab Honor?” de Akiva Eldar (Haaretz)


Daniel mostra que o artigo consiste numa crítica severa ao unilateralismo israelense nas suas relações com os palestinos, esses, de acordo com o autor, já fizeram inúmeras concessões, enquanto que Israel continua a adotar uma postura intransigente.


Comentários Peter: O professor aponta que o artigo de George Friedman, ao enfatizar apenas questões de nível geoestratégico, acaba por ignorar fatores culturais, religiosos e ideológicos, tanto do lado dos palestinos como dos israelenses: esses fatores são essenciais para uma profunda compreensão do conflito israelo-palestino. O interessante do artigo consiste na defesa do restabelecimento das fronteiras pré-1967, feita por um autor de orientação direitista, a partir de uma análise geoestratégica; no entanto, apesar de ser uma análise original, a sua conclusão é, de certa forma, simplista pois desconsidera os assentamentos, e a sua retirada, ação que traria novos problemas e conseqüências para Israel.

Debate: Natália identificou a ausência de considerações geográficas no texto, como a questão da água e do relevo, os quais constituem-se como elementos essenciais na decisão de permanecer ou retirar-se de um determinado território. Natália também enfatizou que as linhas de cessar-fogo de 1949 já implicaram em uma expansão israelenese, comparada à proposta de partilha da UNSCOP em 1947.


Apresentação Augusto – Texto “The Israeli-Palestinian Conflict and the Arab Awakening” de Joel Beinin (Merip)


O pedido de reconhecimento da Palestina como Estado, na ONU, corresponde a um projeto feito por Mahmoud Abbas, e conseqüentemente, pelo Fatah, o qual teria como objetivo principal a substituição dos Estados Unidos como mediador do conflito israelo-palestino, e uma maior concentração das manifestações sociais pelos líderes das facções principais; Fatah e Hamas, as quais conciliaram-se de forma artificial em meio à primavera árabe. Augusto aponta que o reconhecimento, no entanto, não traria mudanças significativas ao cotidiano dos palestinos, pois Israel continuaria com a política dos assentamentos nos territórios.


Texto – “Have the Arab Uprisings made Israel less secure?” de Daniel Byman (Slate)


O argumento principal do texto estaria na concepção de que a primavera árabe, incontestavelmente, trouxe mudanças para o Oriente Médio e para as relações entre os países; no entanto, Israel aparenta não importar-se com a nova conjuntura árabe, e continua a adotar posturas hostis para com certos países. Para o autor, essa atitude corresponderia a um suicídio internacional, pois Israel acabaria isolada nas suas relações exteriores, o que poderia aportar graves consequências ao país.


Comentários Peter: O professor complementa a análise ao argumentar que o jornal Merip, de esquerda, apóia-se em um viés mais economicista, e por isso, pretende criticar essa conspiração neoliberal tanto pelos líderes palestinos como israelenses.

Quanto ao artigo do Slate, Peter aponta que, por ausência de alternativas, Israel, em suas relações internacionais, esteve algumas vezes aliada aos piores ditadores, e com as suas respectivas quedas, causadas pela primavera árabe, Israel acabaria por ter de enfrentar as consequências trazidas pela existência dessas alianças. Nesse sentido, Israel poderia ser vista como uma das vitimas das revoltas árabes.


Abraços,


Daniella K.Abramovay