Reunião - 26/06 AS MULHERES NO ISLÃ
Artigo “Why do they hate us?” de Mona
Eltahawy. Exposição do texto feita por Ariel Finguerut.
Ariel Finguerut
O texto possui um teor provocativo. A autora é uma jornalista
investigativa que cobriu vários conflitos, também foi presa, molestada e
torturada pelo governo egípcio de Mubarak. A autora pretende mostrar a
violência e opressão que as mulheres sofrem no Oriente Médio, e sua proposta é
a de discutir as relações de gênero e, principalmente a dominação masculina com
as políticas na sociedade como um todo. Pode-se afirmar que o texto provocou
uma onda de reações e, opiniões críticas alegam que o artigo poderia ser usado
não apenas para propagar reformas mas também para fomentar uma reação
antimuçulmana.
1)Ponto central do texto:
Discutir a opressão que as mulheres sofrem. Não se trata de
relativismo mas sim da concepção que as mulheres sob o Islã sofrem opressão. Em
cada caso que a autora analisa, ela
procura mostrar que nos países árabes há um problema de autoridade que se
mescla com questões culturais e religiosas. O que torna a questão mais difícil
é a justiça, pois ela se torna uma parede intransponível para as mulheres. A autora mostra a arbitrariedade e a autoridade às quais as mulheres
são submetidas. A autora também trabalha com os conceitos de liberdade civil e
justiça. Nesse sentido a autora questiona se é necessário esperar que o próprio
Islã promova a liberdade civil ou estabelecer reformas a partir do exterior?
Algumas mulheres ativistas (muitas delas favoráveis à liberdade do
uso do véu ou até da burca) negam que haja essa opressão. A partir desse
raciocínio, a autora questiona o que seria considerado justo e injusto,
baseando sua resposta em três interpretações distintas: a balança entre
opressão e violência que pode entrar no conceito de justiça; a justiça no
sentido liberal de pensar o que é legítimo e como deveria ser aplicado a todos;
e a interpretação de que algo é justo quando é garantida a melhor oportunidade
para o melhor.
Comentários do grupo:
Prof. Peter
Não é um texto tão profundo sobre as questões das mulheres no Islã
mas causou muitas reações, as razoes disso podem ser exemplificadas abaixo:
- -O texto foi publicado na
revista Foreign Policy e contém fotos provocativas;
- -O texto não afirma nada de novo
porém o que é dito é importante;
- -O texto parece ser mais
contrário à situação das mulheres no mundo árabe do que no Islã em geral;
- -A autora exemplifica mas não
cita alguns casos cruciais de opressão das mulheres tais como apedrejamentos e
mutilações;
- -Talvez a não resposta dos
problemas provocou ainda mais reações.
A misoginia, amplamente disseminada no Oriente Médio, seria algo
cultural (árabe) ou religioso (islâmico)? São costumes do Oriente Médio
anteriores aos árabes, pois pode se observar a existência de misoginia
semelhante em comunidades situadas do outro lado do Mediterrâneo. Padroes
sociais anti-mulher presentes na antiguidade foram incorporados pelos árabes e
pelo Islã. No Corão encontramos tanto trechos favoráveis à mulher como
contrários à ela.
Outro ponto que deve ser ressaltado é que não há uma relação
explícita entre a liberdade civil e o choque de civilizações pois os “ideais
ocidentais” não são necessariamente ocidentais em sua essência, ou fatalmente
limitados a sociedades ocidentais. Esses ideais foram também incorporados em
sociedades não ocidentais e ocasionalmente podem ser encontrados também no
Islã. O problema está no Islamismo e não no Islã, pois há árabes liberais
muçulmanos; de forma que o problema não seria cultural, seria
político-ideológico.
Ariel Finguerut
O texto é famoso pelo perfil provocativo e pela sua capacidade de
aglutinação, apesar de não trazer nada de novo. Além disso, a autora mostra uma
defesa feminista, não está preocupada com as relações Estados Unidos e Oriente
Médio. Quanto às questões da liberdade civil, há um caráter messiânico da
política externa norte-americana que usa a ideia de liberdade civil; pois, atualmente, o princípio de oportunidades
iguais virou um argumento conservador, o argumento liberal seria tirar de quem
tem para quem não tem de forma que pudessem chegar a um equilíbrio.
Luciana Garcia
Para a autora Joumana Haddad, de “Eu matei Sherazade”, a culpa da
opressão da mulher remete à época da colonização pois tanto os colonizadores
como os colonizados não permitiam a discussão de temas polêmicos. Além disso,
há a questão da massificação, ou seja, as mulheres endossam posicionamento
machista e patriarcal.
Cila Lima
A raiva que a autora mostra impressiona. Ademais, ela levanta
questões tais como se a opressão é intrínseca ao Irã ou pode ser encontrada em
outros países. Outro ponto a ser enfatizado é o de que a discussão sobre a
opressão feminina no Islã remete à década de 1970. Apesar de não responder a
pergunta, a autora questiona o porquê da existência de segregação/ repressão no
mundo árabe. A autora aparenta acreditar que a origem da opressão proveem do
ódio à mulher. Além disso, a autora chama a atenção para questões e dados que
passavam despercebidos. No entanto, o texto é simplista pois realiza uma
dicotomia entre os homens, tidos como opressores, e as mulheres, vistas como
oprimidas. A autora também desconsidera as lutas feministas no Egito e na
Jordânia que ocorrem desde os anos 1920.
A autora levanta a questão da mutilação no Egito pois não é apenas
uma questão cultural, é uma questão econômica também porque as clínicas lucram
consideravelmente ao fazer a mutilação e ao tratar infecções provenientes das
mutilações.
Cybele
O problema decorre do fato de que os movimentos feministas estão
lutando contra a religião, contra os dogmas e contra às próprias leis que regem
a sociedade e o país. No entanto, há diversas interpretações e leituras
possíveis dos escritos religiosos.
Prof.Peter
No mundo muçulmano, como em várias outras sociedades pré-modernas,
as mulheres são vistas como insaciáveis e os homens são os que realmente sofrem
perigo com a sexualidade feminina. A autoestima (honra) dos homens depende do
controle da sexualidade das mulheres, se a sua sexualidade não é controlada, a
honra se perde; porém, isso não é específico ao Islã –o antecede por milênios-
mas foi expressivamente incorporado pelo Islã.
Bibliografia da reunião:
Mona Eltahawy, “Why Do They Hate
Us? The real war on women is in the Middle East.”
In: Foreign Policy 5/6-2012
Reações ao artigo de Mona:
Sherene Seikaly and Maya Mikdashi, “Let’s
talk about sex”. in: Jadaliyya 25-4-2012
Hilal Enver, “The face of Islam,
according to Foreign Policy: The issue focused on women in the Middle
East, Russia and China - but completely ignored gender problems in the West.”.
in: Al-Jazeera 14-5-2012
Blog Saudi Women ( http://saudiwoman.me/ )
Vídeo da Brigitte Gabriel n qual
ela pede doação para impedir a implementação da Charia nos EUA ( http://youtu.be/spnnd4D7BKo
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